sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

LEMBRANÇAS DO SERTÃO NORDESTINO




Um dia fui passear
No sertão onde nasci
Todas as coisas que eu vi
Depressa trouxe pra cá
Com medo de se acabar
Toda sua tradição
É pra minha coleção
Nada posso vender
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Um cutelo de capar pinto
Cuia pra galo com gogo
Vareta de espalhar fogo
Embira pra fazer sinto
Almofada e labirinto
Espingarda e mosquetão
Chifre quicé e facão
Bico de guri morder
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Carroça tanque e chibata
Arapuca e ratoeira
Ancoreta e rossadeira
Jarrinha pra botar nata
Tamborete e pau de lata
E lenha para o fogão
Sunga pra vei mijão
Pro mijo não escorrer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trinchete trança e tramela
Fojo funil ferradura
Arara e Erva que cura
Carvão pra riscar janela
Bucha pra limpar panela
A foto do casarão
Vassoura pra limpar chão
Pra mamãezinha varrer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trouxe cuxim e chocalho
Forquilha de prender pote
Cordinha de amarrar sote
Um pilão de pisar alho
Porrete pra quebrar galho
Garajal balde e surrão
Estribo peia e bridão
Pro cavalo não correr
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Espora gangorra e sola
Um tacho tina e cabresto
Cipó para fazer sexto
Mochila para viola
O barro que ataca a mola
Alforje para o alazão
Um litro de alcatrão
Para de noite eu beber
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trouxe da santa a medalha
Bengala de puxar cego
Martelo pra bater prego
Caixinha para navalha
Abano para fornalha
Chibanca de cavar chão
Palmatória pra lição
Que ninguém quis aprender
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Califom pra moça sonça
E calça de gasimira
A rede feita de tira
Um toco pra amarrar onça
Trouxe até uma geringonça
Pra pegar camaleão
Um radio sempe e um caixão
Pra guarda lo se chover
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Tinta pra tingir pano
Extrato pra moça feme
Um postal da letra eme
Que me botou pelo cano
Fumo de rolo Baiano
Fivela pra cinturão
A prenda de um leilão
Que arrematei sem querer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Querosene jacaré
Pasta colino e dedal
Trouxe goma pro mingau
Combinação pra mulher
Quinado pra quem quiser
Beber La no são João
Toma um gole e cai no chão
Quem do quinado beber
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Tarrafa jequi landuar
Um remo balsa e canoa
Uma forma de assar broa
Milho para o mangunzar
Malagueta pra temperar
O peba pra refeição
Trouxe a rede de algodão
Que ajudei a fazer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trouxe alfinete pra renda
Trouxe raspa de juá
Trouxe o pinho para tocar
Trouxe cuscuz pra merenda
Trouxe mastruz que emenda
Os ossos de um cristão
Trouxe meus versos na Mao
Pra você me conhecer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trouxe um banco de aroeira
Um isqueiro sete lapada
Uma camisa remendada
Creolina pra bicheira
Cumrrinboque e baladeira
Cabide rife e pião
O couro do barbatao
Que morreu sem merecer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Trouxe um disco do Gonzaga
Um espeto de assar piaba
A saudade não se acaba
Nem com o tempo se estraga
Ainda deixei uma vaga
Aqui em meu coração
Pra trazer uma paixão
Que de amor me fez sofrer
Só vendo pra você ver
Como é bonito o sertão.

Autor; desconhecido.

Um comentário:

  1. Quem correu de pé no chão
    No mato pra pegar bode
    Um cabra desse só pode
    Ter nascido no meu Sertão

    Esse verso postado aqui
    Estou feliz em o ler
    Por isso faço saber
    Que nasci no Sertão de Ouricuri

    Parabéns pelo Blog!
    Alonso Bezerra Lima

    ResponderExcluir