quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

POETA DA ROÇA


Autor: Patativa do Assaré.

Sou fio das matas
Cantor das Mao grossa
Trabaio na roça
De inverno e estio
A minha chupana
É tapada de barro
Só fumo cigarro
De paia de mio.

Sô poeta das brenhas
Não faço papé
De algum meresté
Ou errante cantor
Que veve vagando
Com sua viola
Cantando pachola
A procura de amor.

Não tenho Eça bença
Pruque nunca estudei
Apena ainda sei
Meu nome assinar
Meu pai coitadim
Vivia sem cobre
E o fio do pobre
Não pode estudar.

Meu verso rastero
Singelo e sem graça
Não entra na praça
No rico salão
Meu verso só entra
No campo e na roça
Nas pobres paioça
Na serra e no sertão.

Eu canto o muliço
Da vida apertada
Da lida pesada
Da roça e do eito
As vez recordando
A doce mocidade
Eu canto a saudade
Que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco
Com sua caçada
Da noite assombrada
Que tudo apavora
No peito da mata
Eu canto a corage
Eu canto as visage
Chamada caipora

Eu canto o vaqueiro
Vestido de coro
Brincando com tôro
No mato fechado
Que pega na ponta
Do bravo novio
Ganhando elogio
Do dono do gado.

Somente uma coisa existe
Ainda que eu esteja triste
Meu coração não resiste
E pula de animação
É ver uma viola magoada
Bem chorosa e apaixonada
Acompanhando as toada
De um cantador do sertão.

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